Estava eu pensando sobre o que escrever para vocês, quando um fato abriu meu “olhar” de engenheiro químico, “qual seria a diferença entre a embalagem de vidro ou a lata de alumínio?

Já destaco, de início, que sim, há diferenças, ainda que sejam imperceptíveis, há diferenças. Quem é do ramo, e tem um olhar mais clínico, ou que tenha – de fato – estudado a “ciência das bebidas”, sabe do que estou falando.

 

lata-garrafa

 

Sei que muitos de vocês odeiam a química como poucas coisas na vida, mas não é menos certo que vocês já tenham realizados alguns experimentos dentro de um laboratório.

Sendo assim, devem ter percebido, senão ainda poderão perceber, é que a esmagadora maioria dos produtos de um laboratório são guardados ou manipulados em vidros, isso pelo simples fato de que, o produto químico não irá reagir com o material do vidro. Um exemplo, bom exemplo, para os fãs de séries, pode ser visto no Breaking Bad, quando o armazenamento do ácido em um recipiente próprio era essencial. Se lembram da cena na qual a banheira é “corroída”?

 

 

Tendo ilustrado a situação, vamos tecer algumas observações sobre as biritas.

Desde os tempos remotos o barril de madeira tem sido um companheiro inseparável das bebidas alcoólicas. Tanto é verdade que toda a cerveja que era vendida no início do século XVI era armazenada em barris. Mas, esse modo de armazenamento acabou sendo alterado, pois a cerveja armazenada em barris tinha que ser comercializada em tempo curto, sob pena de começar a sofrer deteriorização, em virtude da ação de micróbios e bactérias, as quais produziam um sabor azedo e vinagre. Há que se notar que, algumas cervejas, para não perderem suas características, são conservadas dessa forma, como ocorre com as cervejas Lambic e Berliner Weiss.

Com a necessidade de se alterar a forma de armazenamento, no século XX surgiram novos tipos de barris, de aço, aço inoxidável ou alumínio. Esse novos modelos, permitiam que ficassem abertos mais tempo e também dificultava a perda de gás e a ação de microrganismos.

Por serem barris pesados, o manuseamento era igualmente difícil, o que fez com que os profissionais adotassem as garrafas com maior frequência. Depois, ainda, a evolução fez surgir as latas.

Poderíamos continuar essa história, passando pela criação do processo descobertos por Louis Pasteur na fermentação, mas fugiria muito do tema central.

Algumas diferenças podem existir, como vemos nas cervejas.

Pode haver uma pequena variação na quantidade de gás carbônico em uma mesma cerveja, dependendo do recipiente de armazenamento, sendo a lata menos resistente e o barril, o mais resistente.

Quando armazenada em garrafa, a cerveja ganha mais carbonatação do que a lata, pois as tampinhas são mais permeáveis que aos gases que o alumínio. Assim, a cerveja na latinha e no chope são levemente mais suaves ao paladar, por esse motivo que a cerveja engarrafada é um pouco mais carbonatada do que a lata ou barril.

Sobre a introdução feita, temos que, em quantidades pequenas (uma lata, uma garrafa) não há alteração de sabor na cerveja, tanto que se pode afirmar que, tanto o alumínio, como o vidro “não deixam gosto” no produto.

Mas, ocorre que, se a quantidade do líquido for relativamente grande, por exemplo, a partir de latas de 5 litros, pode haver contaminação da cerveja pelas ligas de ferro da composição da lata.

Ainda, há uma situação interessante, a lata impede que o produto tenha ação da luz, o que não se pode garantir com as garrafas. Sendo assim, quando há ação da luz, nasce o denominado efeito gambá, que decorre da oxidação. Como a cerveja é aromatizada com lúpulo, que também trás o amargor da bebida, poderá sofrer um processo químico quando exposta à luz. Isso porque, o lúpulo também é sensível à luz, em decorrência dos compostos denominados isohumulonas, que se quebram ao serem atingidas pela luz, formando intermediários reativos, os radicais livres, os quais liberam o sabor e o cheiro característico.

Nesse caso, a cerveja fica com um cheiro característico e, comumente, achamos que ela está estragada.

Isso decorre do composto químico 3 metil – 2 buteno -tiol, denominados de mercaptanos e que contêm uma quantidade considerável de ENXOFRE. Como o ser humno é sensível ao mercaptano, somos capazes de sentir o cheiro e o gosto desse composto, ainda que representem algumas partes por trilhão.

Embora, ainda que possam ser imperceptíveis, as diferenças existem. E não é só, há casos que as diferenças podem ser notadas pelo consumidor, como é o caso do efeito gambá mencionado.

O que se pode concluir é que, a opção por lata ou garrafa, mormente para as cervejas, é muito mais uma questão de cultura do que do próprio sabor.